9 de out. de 2007

Meu reino por uma pimenta do reino. Algo que foi se criando dentro, aos poucos, e que hoje chega num ponto que não tem mais por onde expandir-se. Já não está em Porto Alegre o que agora necessito e busco.

O tamanho da mochila é um limitante, a carga que o corpo agüenta também, assim, dentro do que eu posso carregar, a mochila tem somente o que preciso (o mais devo levar no coração). Não escondo o quão difícil será me manter distante, ainda que por um espaço de tempo, da familia, dos amigos e do lugar onde nasci - uma experiência nova. Tudo o que é novo sempre me trouxe apreensão, medo, ansiedade. Ao passo que, ir de encontro ao que desconheço, àquilo que certamente sequer imagino - "As Cidades Invisíveis" - assume também ares de provação. Um desafio daqueles que exigem fôlego: deixar o sul do país, querendo chegar à região norte, percorrendo boa parte desse trajeto à pé. Distante de ser um simples desejo, o que me habita, me afrontando e me desequilibrando, coloca-se como uma necessidade tão forte e urgente por conhecer outras paisagens, outras gentes, cheiros, gostos, sons, que não me permite mais permanecer com os pés enterrados aqui (somente se me enterrarem por completo: de paletó e chinelo de dedo) - qual pessoa que por bem menos não foi taxada de louca ao contrariar o que prega a cartilha do censo comum: erguei castelo e acumulai fortuna.

De que outra forma se pode, de fato, conhecer algo se não pelo contato direto - olhando no olho, sentindo a respiração, trocando idéias - na intenção de buscar caminhos que tornem possíveis as próprias leituras e escolhas. Percorrer parte do país, encontrar o povo, a cultura, a paisagem, é uma tentativa de poder misturar-me, fundir-me a estes, sentir-me verdadeiramente filho dessa terra. Nem Internet, nem toda televisão do mundo, nem uma biblioteca inteira, substituem a experiência vivida - se referem a uma outra ordem.
A muito não me satisfaz ter apenas um pé na África. Conhecer melhor o Brasil Retinto e suas riquezas para poder forjar-me pessoa - que com igual sensibilidade/profundidade, vê o dentro e o fora, porque assim o percebe. Nessa sala de aula ampliada, quero e necessito, também desprender-me dos cacarecos que servem apenas para atravancar a vida - preconceitos e tolices que eu não desejo mais carregar (sei da dificuldade que implica um movimento desses). Entender melhor meus irmãos, julgar bem menos. Desvestir-me do egoismo.
O medo de andar por imensidões desconhecidas é real, me acompanha, no entanto a sensação de segurança não passa de uma sensação - a estrada é perigosa, do mesmo modo a cidade. A vida é um risco e viver implica em arriscar-se. Eu também não sei como será o amanhã, e essa incerteza frente ao que desconheço, só não me paraliza, me impedindo de largar o pouco que conquistei, porque a vontade de viver é maior. Quero o que é meu. Tornar-me mais íntimo do meu país é meu direito, é direito de todos os bradileiros.
Num solo caminhar sem necessariamente sentir-me assim, redescobrir o país redescobrindo-me.

A vida é tão frágil e tão breve.


"Minha vida é andar por este país, pra ver se um dia descanço feliz."

Luiz Gonzaga

Quantos já passaram por aqui